Em julho de 2010, a então candidata Dilma Rousseff fez a sua primeira intervenção sobre a política externa brasileira. Um completo desastre.
Em entrevista à TV Brasil, portanto no conforto da casa própria, Dilma defendeu as relações inexplicáveis de seu padrinho Lula com a ditadura dos irmãos Castro e com as democracias de mentirinha de Hugo Chávez e de Mahomoud Ahmadinejad. E atacou: em Guantánamo se respeitam os direitos humanos? Frase idêntica à que disse em sua primeira visita oficial a Cuba.
Agora, porém, ainda mais desastrosa. Como presidente da República, usou o mesmo argumento – bestial e infantil –, esquecendo-se de que falava em nome do país. Que, hoje, suas declarações ultrapassam a seara da opinião pessoal. São, ou deveriam ser, coisas de Estado.
Guantámano é uma vergonha, um crime. Tão grande que levou a ONU a condenar publicamente os Estados Unidos em 2006, com apoio de dezenas de nações. Curiosamente, e é sempre bom lembrar para não se chorar sobre leite esparramado, a moção não teve a adesão do Brasil. Talvez devido à amizade fraterna de Lula com o então presidente George W. Bush.
Moradia dos horrores. E, até por isso, é absurdo usá-la para absolver regimes totalitários que se escudam nos pecados do Tio Sam para justificar os seus.
Mas Dilma não teve qualquer constrangimento em fazê-lo.
Pior: seu governo, como já é de praxe, escolheu a trilha marqueteira. Deu publicidade ao ato de conceder visto à blogueira Yoani Sánchez e lavou as mãos. Divulgou o fato como se o Brasil, usualmente, negasse visto a cidadãos cubanos e que, para Yoani, uma dissidente do regime, fez-se uma concessão. Se assim o é, o colaboracionismo com os Castro vai muito além dos empréstimos subsidiados do BNDES. Dá apoio até à proibição do direito de ir e vir. É ilógico, absurdo.
Em mais um lance da marquetagem, no mesmo dia da visita a Cuba, liberou-se um relatório sobre a barbárie na desapropriação de Pinheirinho, alimento farto para a tropa de choque governista defender a ditadura castrista.
Pinheirinho foi um desastre em todos os níveis. Mas compará-lo à sanguinária ditadura do paredão de Fidel é cinismo puro e lapidado.
Depois de incensada por ter feito crer que, ao contrário de seu antecessor, se orientava por uma cartilha de defesa do Estado de Direito, os sinais de Dilma se provaram falsos. Assim como Lula – decerto sem o mesmo charme, muito menos eloqüência –, Dilma joga só para a platéia.
A semana que passou foi dedicada a carícias a parcela do PT. Algo que Dilma fez com competência. Para ela, parece ser o que importa. O Estado de Direito? Ele que se dane.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
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