Useiro e vezeiro em criar versões para explicar a inexplicável virada de ponta-cabeça que deu após chegar à Presidência da República, o PT insiste na fórmula: travestir suas ações condenáveis - e até as elogiáveis, mas odiadas por alguns dos seus, como a privatização dos aeroportos – em méritos. E, faça-se justiça, operam isso com maestria.
Das críticas virulentas ao que chamavam de alianças espúrias, nelas incluídas José Sarney e Renan Calheiros, nem se lembram. E, sob o signo da governabilidade, incluíram Collor, Jader...
A tal da governabilidade justificou também a divisão da República em sesmarias para amigos e partidos amigos garfarem seus quinhões. Pela mesma gente que Lula, poucos antes, classificava, com propriedade, de picareta.
Dilma Rousseff segue a mesma cartilha. Manteve a partilha – em português claro, a distribuição da bufunfa que ministérios e estatais administram – em nome de ter folga no Congresso. Ainda assim, a maioria é comprada dia a dia. Até petistas, como mostrou o presidente da Câmara Marcos Maia, ao barganhar a pauta de votação pela nomeação de cupinchas.
Negar esse mimo a Maia até seria ponto para Dilma, tivesse ela alguma coerência entre o que diz e faz. Gerente-mor no governo Lula, e, claro, única em seu próprio governo, Dilma, dizem, grita, berra, esperneia. Mas nada sai do lugar. Ou bem seus auxiliaram brincam com ela, ou bem de gerência ela nada entende. Ou as duas coisas.
Seus melhores momentos, os iniciais – a defesa intransigente dos direitos humanos, a intolerância com “malfeitos” e a condenação ao cerceamento à liberdade de imprensa –, já deixam saudade. Rapidamente, Dilma pôs tudo a perder. Fez vista grossa a suspeitas de corrupção, tropeçou feio em Cuba e ficou muda, completamente muda, quando o PT voltou a falar de controle da mídia.
Como o PT é o PT, o partido agora chama o cobiçado controle de “democratização dos meios de comunicação”. Na essência nada muda. Ou até mude. Gravemente, se decidirem levar ao pé da letra a infeliz, mas estudada tese do ministro Gilberto Carvalho de se criar uma mídia estatal para a classe C. Portanto, controladíssima. Talvez uma TV Brasil do C, com menor audiência ainda.
“Pode-se enganar a todos por algum tempo, pode-se enganar alguns por todo o tempo, mas não se pode enganar a todos todo o tempo", disse Abraham Lincoln. Não há novilíngua petista que mude isso. A ironia de Ricardo Marin, leitor de O Estado de S. Paulo, comprova a imortalidade do pensamento: “Não é privatização, é concessão. Não é caixa 2, é recurso não contabilizado. Não é roubo, é realocação orçamentária.” Já deu na vista.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
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