segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Há 11 ANOS

Josias de Souza
Há 11 anos, a Bahia viveu drama parecido com o que eletrifica o Estado há cinco dias. Uma greve da Polícia Militar fez subir as estatísticas criminais. Uma onda de saques e arrastões ateou pânico nas ruas de Salvador.
Corria o ano de 2001. Governava a Bahia César Borges. Filiado ao PFL (hoje DEM), integrava o grupo político de Antonio Carlos Magalhães. Enfrentava oposição renhida do PT. Inclusive do então deputado federal Jaques Wagner, hoje governador do estado.
Nessa época, Lula era candidato a sucessor do tucano Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República. Em campanha na cidade gaúcha de Santa Maria, foi instado a comentar a greve dos policiais baianos. Responsabilizou o governo pefelê pela desordem:
“Acho que, no caso da Bahia, o próprio governo articulou os chamados arrastões para criar pânico na sociedade. O que o governo tentou vender? A impressão que passava era de que, se não houvesse policial na rua, todo o baiano era bandido. Não é verdade.”
Lula injetou política na confusão:
“Os arrastões na Bahia me lembraram os que ocorreram no Rio em 92, quando a Benedita da Silva foi para o segundo turno nas eleições para a prefeitura. Você percebeu que na época terminaram as eleições e, com isso, acabaram os arrastões? Faz nove anos e nunca mais se falou isso.”
O Lula de 2012 ainda não disse palavra sobre a greve que tisna a administração petista do amigo e ex-ministro Jaques Wagner. O Lula de 2001 não hesitou em apoiar os grevistas:
”A Polícia Militar pode fazer greve. Minha tese é de que todas as categorias de trabalhadores que são consideradas atividades essenciais só podem ser proibidas de fazer greve se tiverem também salário essencial.”
Traçou uma analogia entre o Brasil e a Suécia:
“Se considero a atividade essencial, mas pago salário micho, esse cidadão tem direito a fazer greve. Na Suécia, até o Exército pode fazer greve fora da época de guerra.”
César Borges, hoje filiado ao PR, reagiu assim às críticas: “Além de falar muita besteira, Lula demonstra que está completamente desinformado. Foram deputados petistas que insuflaram a greve e, depois, quando perceberam que o movimento estava fora de controle, procuraram o governo para abrir um canal de negociação.”
Líder do movimento grevista que atormenta a Bahia há cinco dias, o soldado Marco Prisco corrobora agora a versão difundida por César Borges em 2001. Afirma que o então deputado Jaques Wagner ajudou a montar o esquema de financiamento da greve de 11 anos atrás.
Em entrevista concedida neste sábado (4), Jaques Wagner enxergou as digitais dos grevistas na onda de violência: “Parte dos crimes pode ser parte da própria operação montada. A tentativa de criar um clima de desespero para fazer a autoridade do governo do Estado sucumbir ao movimento.”
Acrescentou: “É tentativa de guerra psicológica. Parte disso é cometida por ordem dos criminosos que se autointitulam líderes do movimento. Não é possível que governadores sejam ameaçados por policiais com arma em punho”.
O antecessor César Borges dizia coisa muito parecida: “Houve uma ação deliberada de um grupo para implantar o terror na Bahia, para mostrar que a greve da PM tinha adesão total. Não acredito que a iniciativa dos saques e arrastões tenha partido do povo baiano, que é pacato e ordeiro. Havia, no movimento, muitos radicais, policiais que não merecem vestir a farda.”
Ontem, como hoje, a solução adotada pelo governo baiano para remediar o problema foi acionar Brasília. A exemplo do que fez Dilma Rousseff agora, FHC enviou soldados do Exército para patrulhar as ruas.
Diz-se que a história sempre se repetiu. Por uma dessas ironias que só a política pode prover, a história que se repete na Bahia é a que, no passado, o PT de Lula e Jaques Wagner consideravam pré-história.

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