domingo, 6 de fevereiro de 2011

Paraná vai ter orgulho do Legislativo, diz Rossoni

TRANSPARÊNCIA Valdir Rossoni, presidente da Assembleia Legislativa, promete prestação de contas mensal



A madrugada do dia 2 de fevereiro de 2011 já entrou para a história política do Paraná. A imagem da Assembleia Legislativa ocu­pada pela Polícia Militar promete ser emblemática ao marcar o início de um no­vo tempo na Casa. Pelo me­nos, essa é a promessa do novo presidente do Le­­gis­lativo, deputado Valdir Ros­soni (PSDB), eleito para dois anos de mandato na última terça-feira. Ao anunciar uma série de medidas de impacto, o novo presidente garantiu que “o Paraná vai ter orgulho do Legislativo”.

“Nós vamos fazer o trabalho que a população está querendo: transformar, mudar e deixar como a sociedade espera”, afirma Rossoni. O tucano assume a Assembleia paranaense após um ano conturbado, em que a Casa foi marcada por sua mais grave crise, de denúncias de irregularidades e desvios milionários.

Para mudar esse cenário, o novo presidente anunciou a contratação de uma auditoria da Fundação Getúlio Vargas e medidas para aumentar a transparência.

Ao solicitar que a PM ocupasse a Assembleia, Ros­soni justifica que objetivou acabar com um “poder pa­ralelo” instituído pelos segu­ranças que trabalhavam na Casa. “Estávamos vivendo no pior mundo que existe”, resumiu. Acompanhe a entrevista
Éramos reféns de alguns seguranças da Casa, por isso, tínhamos que tomar atitudes para implantar as mudanças necessárias



DIÁRIO DOS CAMPOS – O início da sua gestão foi marcado por uma medida de impacto que foi a ocupação da Assembleia Legislativa pela Polícia Militar. O que motivou essa ocupação?

VALDIR ROSSONI – O principal motivo que nos levou a solicitar a presença da Polícia Militar é que todos os seguranças foram demitidos e será trocado o sistema de segurança da Casa. Teremos um gabinete militar, com a segurança da Casa sendo feita pela Polícia Militar, enquanto que para a segurança do patrimônio será contratada uma empresa privada.

DC – Após a ocupação o senhor disse que havia um ‘poder paralelo’ na Assem­bleia, exercido pelos seguranças. O que ocorria de fato?

ROSSONI – Nós não tínhamos segurança na Casa. Não posso dizer que todos os seguranças não prestavam um bom trabalho, mas a situação era lamentável. Éramos reféns de alguns seguranças da Casa, por isso, tínhamos que tomar atitudes para implantar as mudanças necessárias. Para dar um exemplo, quando uma pessoa vinha à Assembleia ela tinha que pagar propina para poder estacionar o carro. Estávamos vivendo no pior mundo que existe. Com o tempo eles foram ganhando poder, assumindo posições até chegar ao ponto que não dava mais. Ou nós mudávamos tudo ou entregávamos o poder a eles. Além disso, alguns seguranças empregavam toda a família. Tinha gente que, somando com os familiares, ganhava R$ 50 mil. Era dinheiro jogado pela janela.

DC – E como funcionará a segurança a partir de agora?

ROSSONI – A Polícia Militar já foi dispensada, vão permanecer apenas os policiais comandados pelo tenente coronel Arildo [Luís Dias, chefe do Gabinete Militar], que fará a segurança institucional. Serão em torno de 20, 25 policiais. Mas é importante esclarecer que vamos ressarcir os cofres do Estado pelos policiais que estão aqui. A Assembleia vai calcular as despesas que o governo está tendo e devolver o dinheiro para que sejam contratados mais policiais militares. Mesmo assim, vamos economizar mais de 50% do que era gasto com segurança.

DC – O presidente do Sin­­dicato dos Servidores Le­­gislativos e líder dos se­gu­ran­ças [Edenílson Carlos Ferry, conhecido como Tô­ca] fez uma série de denúncias contra o senhor, inclusive divulgando um dossiê com supostas irregularidades. Como o senhor avalia isso?

ROSSONI – Não tive conhecimento desse material e não vou me ocupar disso. Qualquer denúncia contra a minha pessoa o Ministério Público poderá investigar. Estou certo de que minhas ações têm sido corretas, por isso é até bom que haja uma investigação, assim a população vai saber quem está falando a verdade. Esses seguranças tinham um longo histórico na Casa, eles ditavam normas, determinavam os servidores que tinham de ser contratados, tudo tinha de passar pelo seu crivo. Este presidente do sindicato chegou a um diretor da casa e, com uma arma em punho, disse que se ele não colocasse o teto do salário faria o serviço. Não há condições mais para que esse cidadão queira, sob ameaças, coibir nosso trabalho. Portanto, tudo que tiver contra o deputado Valdir Rossoni vamos encaminhar ao Ministério Público e deixar que ele investigue.

DC – Uma das primeiras medidas que o senhor anunciou foi a contratação da Fundação Getúlio Vargas para realizar uma auditoria na Casa. Como será feito esse trabalho?

ROSSONI – A Fundação Getúlio Vargas fará o recadastramento de todos os funcionários efetivos e nos dará a possibilidade de fazer uma folha de pagamento correta. Será um trabalho integrado à folha pagamento: quem se apresentar vai receber o salário, quem não se apresentar não vai receber e serão tomadas as devidas providências. Não é justo que uns trabalhem muito e outros recebam mais enquanto ficam passeando pelo Brasil. A Fundação Getúlio Vargas vai nos orientar, não queremos tomar medidas erradas. Queremos estar assessorados por uma entidade com credibilidade muito grande porque todas as medidas serão baseadas nesse assessoramento. Tenho dito que os que trabalham estão na porta do céu e os que não trabalham estão na beira do precipício.

DC – No passado falou-se muito em falta de transparência por parte da Assembleia Legislativa. Que medidas o senhor pretende adotar para melhorar a Casa nesse aspecto?

ROSSONI – Nós vamos implantar um sistema diferente de prestação de contas. A cada 30 dias faremos uma audiência pública, vamos convidar a sociedade organizada pra receber essa prestação de contas e questioná-la. Transparência total, essa é a única forma de recuperar a autoridade dos deputados. Nós vamos fazer o trabalho que a população está querendo: transformar, mudar e deixar como a sociedade espera. O povo do Paraná vai ter orgulho do Legislativo e os deputados poderão andar de cabeça erguida. Quero prestar um trabalho para a população.

DC – E como tem sido a receptividade dos deputados nesses primeiros dias de gestão?

ROSSONI – Por enquanto, nenhum parlamentar se manifestou publicamente contra as nossas medidas. Tenho recebido muitos deputados e todos têm dito ‘contem comigo’. Mesmo os deputados do PT, que não votaram em mim, disseram que posso contar com eles nas medidas de saneamento. Quando disputei a presidência tinha como meta medidas saneadoras, por isso tivemos votos de quase todos os deputados.

DC – Como será a relação com o governo Beto Richa?

ROSSONI – Sou presidente do PSDB e durante a campanha eleitoral percorri o Estado com o Beto Richa. Prometemos instituir um jeito diferente de governar, com atitude, firmeza e determinação. O Beto está cumprindo seu papel e eu vou cumprir o meu para honrar a proposta que levei para todo o Paraná. Acredito que o Beto terá facilidade de construir a maioria na Assembleia porque é homem de fácil dialogo, não tem adversários, isso facilita muito. Mas vamos dirigir a Casa com independência, afinal é um poder constituído.

Queremos estar assessorados por uma entidade com credibilidade muito grande porque todas as medidas serão baseadas nesse assessoramento:

Entrevista no Diário dos Campos http://www.diariodoscampos.com.br/  Anderson Gonçalves

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