domingo, 28 de agosto de 2011

Extraléxico


Rapinar, furtar, afanar, depenar, escorchar, saquear, pilhar, surrupiar, bifar, gualdripar, suquir. A língua portuguesa é farta em definições para o verbo roubar. Há palavras para todo tipo de ladroagem. Roubar gado é abigear; furto de coisa pequena é sisar, carchear é rapar o adversário morto em batalha. Roubo pode ser estruncho, ranfo, gaziva.
Mais criativos do que os termos que tipificam o crime de subtrair algo em detrimento de alguém só mesmo as férteis idéias que se multiplicam quando se trata de tungar os cofres públicos. São tantas e tão graves que se tornam inomináveis.
Os mensaleiros, por exemplo, poderiam ser chamados de capiangos, aqueles que roubam com astúcia e destreza. Que, quando pegos, se safam. Mas a complexidade do mensalão não encontra sinônimo em dicionário algum.
Repassar recursos para ONGs fantasmas e falsos patrocínios, como se viu nos ministérios de Turismo e dos Esportes, é mais do que esbulhar. Poderia ser agadanhar, visto o afiado das garras nos desvios. Ainda assim, é pouco.
Nem mesmo o pior dos xingamentos serviria para definir a safadeza da expressão “mudança de escopo”, que garante o sobrepreço de obras. Às vezes para pagar conta devida, outras, para o sublime papel de angariar fundos para o partido. Não raro, para o próprio bolso.
A atitude de parlamentares e ministros que arrastam a asa para empresários amigos, todos eles com gordos contratos no governo, até poderia ser chamada de cresta. Mas é mais do que isso. Voar daqui para acolá de favor nesses jatinhos parece que é só meio crime. Alguns, e só alguns, pagam com a própria cabeça. Os eleitos, nem isso.
O que dizer então do presidente do Congresso Nacional José Sarney, que acha que tem direito de usar um bem público para o prazer privado? Que considera legítimo locupletar?
E que nome dar aos atos da presidente Dilma Rousseff? Aquela que fez e aconteceu. Que degolou três ministros e demitiu quase três dezenas só nos Transportes, que ia combater a corrupção e agora não vai mais. Que, por orientação de seus marqueteiros, usou o apelo popular da faxina ética e abandonou vassouras e escovões ao primeiro sinal de conflito na base de apoio.
Como nominar a cumplicidade com malfeitos do ex Lula, mentor e padrinho da presidente?
Punir, castigar. Poucas são as palavras para indicar o que deveria ser feito com os que roubam, com os corruptos e os corruptores. Menor ainda é a aplicação delas.
Respostas existem, mas o calão dos vocábulos impede o uso.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

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