terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O lugar da oposição

Terminado o período de festividades, com a chegada do ano novo e posse da primeira presidente mulher do país, uma reflexão deve ser feita pelas lideranças dos maiores partidos de oposição do Brasil. PSDB e DEM devem, mesmo, ter um papel de coadjuvante na política nacional? Ao menos foi essa a decisão tomada na reunião entre os oito governadores eleitos do PSDB, realizada há duas semanas em Maceió. Na prática não se trata de uma novidade, já que durante o governo Lula os tucanos fizeram críticas pontuais ao Executivo federal. Mas seria melhor para a democracia brasileira que existisse uma oposição forte, organizada, pronta para combater ações consideradas equivocadas.


Os governadores dizem que preferem ter uma relação republicana com o governo. Devem temer o embate por achar que podem perder verbas vindas de programas do governo federal. Isso sim seria uma atitude antirrepublicana por parte do governo. Na Carta de Maceió, os governadores anunciam “cobranças” por mudanças no pacto federativo e no financiamento da segurança pública e defendem uma “relação altiva de respeito mútuo” com o governo federal. Ainda declararam à imprensa que cabe ao parlamento o papel de oposição. E aí vale a crítica.

É lógico que a relação deve ser de respeito, mas a oposição deveria ter somente uma cara. Como a sociedade vai entender que os maiores partidos de oposição têm uma postura no parlamento e outra defendida por suas principais lideranças que foram eleitas para assumir governos importantes, como Paraná e Minas Gerais?

Deve ser exatamente essa dubiedade que criou estranheza aos eleitores quando neste ano, no início da campanha para presidente da República, o PSDB e o DEM apareceram com críticas ao governo que não haviam feito até então. A falta de oposição mais consistente durante o atual mandato do governo federal é tida como um dos fatores que levaram o presidente Lula à sua atual popularidade e que facilitaram a vitória de Dilma.

 Pois, se não há críticas, se quem convive na administração pública conhece de perto seu funcionamento, não aponta os erros é porque está tudo certo. E não é assim. Escândalos surgidos durante a campanha, como o tráfico de influência que envolveu Erenice Guerra, braço direito de Dilma Rousseff na Casa Civil, foi um exemplo de que a oposição precisa estar sempre de olhos e ouvidos abertos.

Cabe à oposição o papel de fiscalização, de coibir eventuais excessos do governo, de criticar as políticas públicas, acompanhar a aplicação do orçamento. Hoje esse papel é feito somente pela imprensa, e a oposição parece ser mais uma expectadora das notícias.

José Serra obteve 43.711.388 votos, 43,95% do total no segundo turno. Um patrimônio que não deve ser descartado. Foram votos daqueles que não queriam ver o PT novamente na Presidência da República e que esperam uma oposição de qualidade, com posições firmes e claras. Na democracia, o embate de ideias e o contraditório são o que garantem o equilíbrio nas ações do governo. É a atitude capaz de coibir a corrupção, pois o homem público não quer ter reveladas as suas falcatruas. É o peso capaz de corrigir os erros do governo.

E esse papel deve ser do PSDB e do DEM. Co­­mo um todo, e não somente no parlamento

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