Ao longo de uma hora e 45 minutos o documentário Tancredo, a Travessia”, de Silvio Tendler,narra a vida do ex-presidente Tancredo Neves e os principais fatos políticos da história brasileira desde a revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, até a morte do político mineiro, em 1985.A maior parte dos fatos é relatada por personagens que presenciaram os acontecimentos, entre eles, tucanos que tiveram contato direto com o ex-presidente, como Fernando Henrique Cardoso e, naturalmente, Aécio Neves, neto de Tancredo, e outros nem tanto, como José Serra.Outros personagens que testemunharam a trajetória de Tancredo como os políticos Jarbas Vasconcelos, Fernando Lira, Almino Afonso, José Sarney (vice de Tancredo), o general Leônidas Pires Gonçalves e os músicos Milton Nascimento e Fafá de Belém, ajudam a compor o fio condutor da narrativa. O filme não apresenta qualquer relato de adversários políticos do mineiro.
Foto: AETancredo, Luci e Franco Montoro, Brizola e Ruth Escobar, de mãos dadas, no Comício Pró-Diretas, em 1984. Atrás de Tancredo, QuérciaA relação de Tancredo com Getúlio, de quem o mineiro foi ministro da Justiça, tem destaque especial. Por outro lado, as rusgas entre Tancredo e outro peso pesado da política mineira, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, são abrandadas. Em 1960, Tancredo perdeu a disputa pelo governo de Minas Gerais para Magalhães Pinto que, quatro anos depois, seria um dos pilares do golpe militar contra João Goulart. A derrota é creditada à falta de empenho de JK na eleição de Tancredo.Dois dos principais líderes políticos da época em que o mineiro foi eleito presidente, o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, são tratados de forma lateral. A imagem de Brizola aparece algumas vezes e a participação de Lula se restringe a um pequeno trecho de seu discurso em um comício pelas Diretas Já.Segundo o filme, embora Lula já tivesse comandado as históricas greves do ABC e Brizola governasse o estado que possui o terceiro maior colégio eleitoral do país, Tancredo considerava, em 1985, que os maiores lideres da esquerda brasileira eram o então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e o ex-deputado baiano Francisco Pinto.
Foto: Reprodução'Tinha alguém segurando a cabeça dele por trás do sofá', disse Verinha MontoroO PT é retratado como o vilão da eleição indireta vencida por Tancredo em 1985. Na época, o partido decidiu boicotar o pleito por considerar que a única forma legítima de eleição é a direta, pelo voto. A bancada de oito deputados se dividiu e os dissidentes que insistiram em votar em Tancredo foram expulsos do PT.O senador Eduardo Suplicy, que se ausentou da votação obedecendo a orientação partidária, faz um rápido relato do episódio mas não chega a explicar os motivos do PT.O boicote do PT ao colégio eleitoral que elegeu Tancredo Neves foi tema da campanha presidencial do ano passado como parte do discurso de campanha do PSDB.No dia 6 de abril a então candidata do PT, Dilma Rousseff, aproveitou uma passagem por São João Del Rey para depositar flores no túmulo do ex-presidente. O episódio gerou forte reação dos tucanos que evocavam para si o legado político do avô de Aécio e acusavam Dilma de usurpar a memória de Tancredo.O documentário termina com a sucessão de erros médicos e a farsa midiática que cercou a morte do ex-presidente no Incor, em São Paulo, antes que ele pudesse tomar posse, deixando a presidência para José Sarney.
Foto: AE
Tancredo, Luci e Franco Montoro, Brizola e Ruth Escobar, de mãos dadas, no Comício Pró-Diretas, em 1984. Atrás de Tancredo, Quércia
Foto: Reprodução
'Tinha alguém segurando a cabeça dele por trás do sofá', disse Verinha Montoro
'Presidência é destino', repete Aécio em pré-estreia de 'Tancredo'
Lançamento de filme sobre Tancredo Neves teve Ronaldo, Fafá de Belé e lideranças tucanas. Mas não teve FHC
Poucos minutos antes de entrar na sala de cinema para assistir pela primeira vez o filme"Tancredo, a Travessia", o senador Aécio Neves (PSDB-MG) repetiu uma de suas frases preferidas para comentar a disputa presidencial. "Presidência é destino muito mais do que projeto", disse na noite desta segunda-feira. "O que vier para mim, estarei pronto", completou Aécio, inspirado nos ensinamentos de seu avô Tancredo Neves.
O filme, dirigido por Silvio Tendler, teve sua pré-estreia no Espaço Unibanco Pompéia, em São Paulo. A estreia nacional será no dia 28 de outubro.
Foto: Eduardo Lopes
Ao fundo à esquerda, Ronaldo manda ver na pipoca. À frente, os tucanos Alckmin, Aécio e Serra
No contexto da redemocratização, Tancredo Neves também se colocou na disputa presidencial – naquela época, ainda indireta – dizendo-se disposto a apoiar o deputado Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara, caso ele quisesse ser candidato. A disputa interna no MDB, partido de oposição ao regime militar, é relatada por testemunhas oculares no longa-metragem, que ressalta a "grandeza" de Ulysses e Tancredo, que se uniram em prol da transição pacífica da ditadura para a democracia no Brasil.
Um dos principais protagonistas do filme é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), que não compareceu à pré-estréia. A festa em torno de Aécio contou com a presença de celebridades como o ex-craque Ronaldo Nazário, a cantora Fafá de Belém e o apresentador Tom Cavalcante, além de diversas lideranças tucanas. Assistiram à premier ao lado do senador o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, os ex-governadores José Serra (que também teve participação no longa) e Alberto Goldman.
No filme, Aécio se apropria dos feitos do avô ao relatar fatos na primeira pessoa do plural. O senador também comenta histórias ocorridas quando era um bebê, como a derrota de Tancredo para Magalhães Pinto em Minas Gerais, em 1960. Reforçando ainda mais a ideia de herdeiro político do avô, Aécio aparece em diversas cenas históricas atrás de Tancredo, quando era seu secretário pessoal, inclusive durante uma entrevista em que ele, já eleito presidente, lembra Napoleão e diz: "Política é destino".
Sarney
Como se sabe, Tancredo Neves nunca assumiu o cargo. Este papel na história da redemocratização brasileira coube a seu vice, hoje presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Também em depoimento ao jornalista Roberto D'Ávila, que conduz as entrevistas do filme, Sarney comenta que chegou a pensar que sua carreira política havia se encerrado em 1984, depois de renunciar à presidência do PDS para apoiar Tancredo. Neste momento, ouviu-se uma sonora gargalhada de Fafá de Belém e outros convidados na platéia.
"Sarney fez o que pôde. Mas o Brasil perdeu 10 anos", disse Aécio Neves. Sarney assumiu em 1985, ficou cinco anos na Presidência, foi sucedido pelo também senador Fernando Collor de Mello, que sofreu impeachment dois anos após assumir. No fim de 1992, assumiu o ex-governador mineiro Itamar Franco (morto em julho deste ano), que ficou mais dois anos no poder, elegendo seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso.
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