Com o Rio Grande do Sul sob controle, os revolucionários precisavam atravessarquatro estados (Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) até a capital da República.
Não dispondo do apoio da Marinha de Guerra, o único caminho era pela Ferrovia São Paulo – Rio Grande.
Não dispondo do apoio da Marinha de Guerra, o único caminho era pela Ferrovia São Paulo – Rio Grande.
Por esta via, ainda no dia 03 de outubro, horas antes dos eventos em PortoAlegre , forças rebeldes seguiram pelo interior de Santa Catarina, com o objetivo de chegarrapidamente até Porto União, na divisa com o Paraná.
O domínio desta ferrovia garantiu aosrevolucionários o controle sobre a antiga área do Contestado, preservando a segurança e odeslocamento das suas tropas com seus suprimentos que deveriam fluir por esta única via.
Quando as forças revolucionárias chegam a Porto União, o Batalhão de Caçadoresvindo de Joinville e ai estacionado já havia se rebelado e aderido à Revolução. Neste mesmodia, 04 de outubro, o 13º Regimento de Infantaria também se rebelou e assumiu o controlesobre a cidade de Ponta Grossa.
Em Curitiba o Major Plínio Tourinho, em acordo com osgaúchos, conduziu um conjunto de ações que levou a adesão da guarnição federal, da PoliciaMilitar e do Corpo de Bombeiros. O Presidente do Estado, Affonso Camargo, sem apoiomilitar, retirou-se para Paranaguá e daí para São Paulo. Desta forma em 05 de OutubroCuritiba encontrava-se sob um governo revolucionário, seu chefe era o General da ReservaMário Tourinho (irmão do Major Plínio):
A adesão do Paraná foi quase a vitória da Revolução. Pela sua situação geográfica e pela unidade de vistas do povo e da guarnição militar do Exercito, o seu concurso à causa foi dos mais inestimáveis. Após a vitória da manhã de 05 de outubro [de 1930] às 13 horas desse dia, entrei em franca ligação pelo telégrafo com o chefe da revolução, dr. Getúlio Vargas, dando-lhe conta das ocorrências mais importantes e das medidas tomadas para garantia do movimento revolucionário. Dele recebi o primeiro telegrama, que dizia: “Porto Alegre, 5 – Major Tourinho. Curitiba. Paraná. Bravo! Bravo! Marcho com o Rio Grande ao vosso encontro. Vamos todos. Exercito e povo. Abraços. Getúlio Vargas” (TOURINHO, 1983, p.83).
Com a adesão paranaense, as tropas gaúchas avançam pelo estado e chegam a PontaGrossa. O 5º Regimento de Cavalaria Divisionária, sediado em Castro permaneceu fiel aLegalidade quando realizou seu recuo em direção a São Paulo destruiu trechos da ferrovia edanificou pontes.
Em Itararé-SP, junto a divisa com o Paraná, foram organizadas forças paraimpedir o avanço revolucionário e as primeiras forças rebeldes que seguem naquela direçãoeram formadas pelo 13º Regimento de Infantaria e pela Policia Militar do Paraná.
Os rebeldesparanaenses foram seguidos pelos gaúchos que em Jaguariaíva adentraram pelo RamalFerroviário do Paranapanema, atingindo sem dificuldades o Norte Pioneiro do Paraná.
A 07 [de outubro] chegava a Ponta Grossa a ponta da vanguarda de Miguel Costa,que seguiu immediatamente para Castro, depois que seu commandante conferencioucomigo. Era esse comandante o Capitão [Trajano] Marinho. A gauchada estavasequiosa para combater e não admittia que tivesse seguido na frente um batalhão do13º R.I. Eram trezentos homens bem fardados e bem armados (MIRANDA, 1933,p.95-96).
Outras forças seguiram de Curitiba para o Vale da Ribeira onde ocorreram tambémcombates.
[...] houve um impasse militar na fronteira com São Paulo [e Paraná], perto dacidade de Itararé. A batalha ai travada teve características aparentemente modernas,com trincheiras em toda a frente de combate, arame farpado, ninhos demetralhadoras e artilharia (YONG, 1979, p.26).
Tomavam forma rapidamente as três frentes de luta entre os rebeldes revolucionários eas forças defensoras da legalidade formadas por unidades do Exercito sediadas em São Paulo e Rio de Janeiro e pela Força Pública Paulista. As frentes de combate eram Vale da Ribeira,Sengés-Itararé e Norte Pioneiro e Norte Pioneiro.
4 - O NORTE PIONEIRO E O COMBATE DE QUATIGUÁ
Conhecido à época apenas como “Ramal Ferroviário do Paranapanema”, o Norte Pioneiro Paranaense possuía uma grande importância dentro do contexto do avanço da Revolução sobre o Estado de São Paulo. Coube a tropas vindas diretamente do Rio Grande do Sul assegurar o seu controle.
No dia 08 de outubro, contando com apoio local, um comboio ferroviário transportando um esquadrão da Brigada Militar chega até Colônia Mineira, atual Siqueira Campos e daí seguindo até Affonso Camargo, atual Joaquim Távora, nos dias
seguintes. Eram conforme relatado por Miranda (1933) cerca de trezentos homens fardados e
bem armados.
O Esquadrão Marinho foi a primeira força gaúcha que se aproximou da divisa de SãoPaulo. Pelo Norte Pioneiro poderiam chegar por via férrea até diante de Ourinhos-SP,poderiam atravessar o Rio Paranapanema pela Ponte Pênsil “Manuel Alves de Lima”, emRibeirão Claro ou transpor o Rio Itararé em Porto Maria Ferreira ou em Carlópolis,adentrando assim ao Estado de São Paulo.
Foram os primeiros combatentes revolucionários que se aproximaram da fronteira.
Por isto, os que primeiro se mediram com os que desceram de São Paulo. Atingindoa estação férrea de Jaguariaíva, onde a estrada se bifurca, deixaram a direção deItararé para a direita e rumaram para Colônia Mineira [Siqueira Campos-PR], àesquerda. Atingiram-na sem tropeço. E não perderam tempo (LEITE, 1931, p.151).
Por isto, os que primeiro se mediram com os que desceram de São Paulo. Atingindoa estação férrea de Jaguariaíva, onde a estrada se bifurca, deixaram a direção deItararé para a direita e rumaram para Colônia Mineira [Siqueira Campos-PR], àesquerda. Atingiram-na sem tropeço. E não perderam tempo (LEITE, 1931, p.151).
Os revolucionários possuíam como um dos seus objetivos, partindo do Norte doParaná, a cidade de Bauru cujo controle efetivo dividiria o Estado de São Paulo em duaspartes. De Bauru poderiam fazer a junção com as tropas mineiras e através de Minas Gerais eatingirem a cidade do Rio de Janeiro. O Estado de São Paulo, sua capital e o Vale do Paraíbaficariam assim isolados e obrigados a aceitar a vitória da Revolução. Paulo Nogueira Filho(1958) faz menção a esse plano que seria efetivado em caso de maior resistência paulista emItararé.
Fui ao vagão do Estado-Maior, onde encontrei de plantão o seu subchefe, NewtonEstilac Leal, também meu bom amigo. Sobre a mesa havia um mapa de São Paulo,indicando uma flecha encarnada o caminho de Bauru. Estratégia à vista: cortar oEstado de São Paulo em dois. Tudo estudado em suas minúcias (NOGUEIRAFILHO, 1958, p.527).
Os rebeldes não se contiveram em Siqueira Campos , seguiram daí, pela ferrovia rumoao norte:
Continuaram avançando, sempre pela via férrea. Transpuseram a estação Catiguá[Quatiguá-PR] e prosseguiram para Affonso Camargo [atual Joaquim Távora-PR].
Afinal aqui [...] tiveram contato com os primeiros adversários (LEITE, 1931, p.151).
Afinal aqui [...] tiveram contato com os primeiros adversários (LEITE, 1931, p.151).
A força legalista que os gaúchos enfrentaram em Joaquim Távora e posteriormente em Quatiguá, era
composta por elementos do Exercito vindos de Quitaúna, da Força Pública Paulista reforçados pelos alunos
da Academia dessa força. Haviam ainda diversos voluntários civis recrutados por Ataliba Leonel, deputado federal e chefe político do interior de São Paulo. Diante da oposição encontrada o Esquadrão Marinho recuou para Quatiguá onde esperou reforços, era o dia 11 de outubro. Este combate inicial foi noticiado em São Paulo , no dia seguinte como uma grande vitória da forças da Legalidade:
O Esquadrão Marinho aguardou a chegada “Destacamento Etchegoyen”, comandado pelo Coronel Alcides Gonçalves Etchegoyen, no amanhecer de 12 de outubro. Esse oficial rebelde havia participado do planejamento da Revolução em Mato Grosso , de onde retornou para atuar no grupo de comando a mesma em Porto Alegre.
Naquele grupo, entre outros, figuravam Osvaldo Aranha, Pedro Aurélio de Góes
Monteiro, Miguel Costa, Virgilio de Melo Franco, João Alberto Lins de Barros,
Newton Stilac Leal, [os irmãos] Alcides e Nelson Etchegoyen, Amaral Peixoto,
Hercolino Cascardo, Pinheiro de Andrade, Cícero Góis Monteiro, Ricardo Holl,
Mauricio Cardoso, Adalberto Corrêa e Luís Aranha. Entre os demais núcleos da
“Coluna-Mestra da Revolução” destacavam-se os de Assis Brasil, João Neves, Raul
Pila, Lindolfo Collor, Flôres da Cunha e Batista Luzardo. Em plano mais distante,
vários líderes militares e civis, também de prestigio. Dominando soberanamente
esses conjuntos de chefes, líderes, grupos e núcleos, investido oficialmente das
funções de “Chefe Supremo da revolução”, o Dr. Getúlio Dornelles Vargas
imperava (NOGUEIRA FILHO, 1958, p.511).
Professor Mestre Roberto Bondarik
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES
AINDA O COMBATE DE QUATIGUÁ. Gazeta do Povo. 23 de Outubro de 1930 – Nº
4.178 – Ano XI – p.01;
CALDEIRA, Jorge. Viagem Pela História do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1997;
DONATO, Hernâni. Dicionário das Batalhas Brasileiras. São Paulo: Ibrasa, 1987;
ETCHEGOYEN, Nelson. Relatório de Combate do 6º R.A.M no Norte do Paraná. Cruz
Alta: Boletins do 6º Regimento de Artilharia Montada , 1931.
LEITE, Aureliano. Memórias de um revolucionário: A Revolução de 1930, Pródromos e
conseqüências. lª edição. s/l. 1931.
MIRANDA, Alcebíades. Justitia Vanum Verbum: Episódios da Revolução de 1930. São
Paulo: (S.D.T.) 1933;
NOGUEIRA FILHO, Paulo. Ideais e Lutas de um Burguês Progressista: o Partido
Democrático de São Paulo e a Revolução de 1930. São Paulo: Anhambi, 1958;
PAULISTAS E GAÚCHOS LUTARAM EM QUATIGUÁ. Jornal Folha de Londrina,
Caderno 2 – Sexta-feira, 06 de Abril de 1984, p.24
PRADO, Hermínio. “Acção da Legião Garibaldi do Commando do General Elisiário Paim
Filho”. In: Revolução de 1930: Imagens e Documentos, Revista do Globo – Edição
Especial, Fevereiro de 1931, Porto Alegre: Barcellos, Bertaso & CIA, p. 257-261;
TOURINHO, Plínio. Depoimento. In: Cinqüentenário da Revolução de Trinta no Paraná.
2ª Ed. Curitiba: Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, 1980, p.78-83;
VERÁS, Wanderley. O Combate de Quatiguá. In: MIRANDA, Alcebíades. Justitia
Vanum Verbum: Episódios da Revolução de 1930. São Paulo: (S.D.T.) 1933, p.236-244;
YOUNG, Jordan. “Aspectos Militares da Revolução de 1930” . In: FIGUEIREDO, Eurico
(Org). Os Militares e a Revolução de 30. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.15-35;
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