domingo, 4 de dezembro de 2011

Morre Sócrates, ícone do futebol e da campanha das diretas

Sócrates



                                           Sócrates foi um dos maiores nomes da seleção de 82



O ex-jogador Sócrates morreu na madrugada deste domingo no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a uma infecção generalizada.
Por sua trajetória, personalidade e estilo de jogo, Sócrates foi um dos mais peculiares jogadores que atuaram no nível mais alto do futebol brasileiro e mundial.
A começar pelo nome, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, excentricidade do pai, que deu a três de seus filhos nomes de filósofos gregos. O quarto filho da lista foi impedido de ser batizado como Xenofontes por pressão da mãe, ganhando o nome de Raí.
E como para comprovar a tese de que as pessoas tendem a assumir o nome pelo qual são chamadas, ele se especializou em mostrar ao mundo maneiras novas de ver as coisas, fosse dentro ou não das quatro linhas do campo.
Filósofo, médico, centroavante, meia-atacante, comentarista, escritor... a lista de atividades que exerceu e imprimiu uma marca pessoal é grande. Mas foi como protagonista de uma das mais queridas gerações de futebolistas brasileiros é que ele será provavelmente lembrado por muito tempo.
Sócrates começou a carreira de atleta extraordinariamente tarde. Se formou aos 23 anos de idade como médico, em 1977, e só a partir daí passou a se dedicar em tempo integral ao futebol.
Naquele ano, foi artilheiro do campeonato paulista pelo Botafogo de Ribeirão Preto e, no seguinte, se transferiu ao Corinthians, onde viveria sua melhor fase. Um ano depois, em 1979, iniciaria sua brilhante carreira na Seleção Brasileira.
Foi o capitão da equipe que brilhou na Copa da Espanha em 1982, mas não conseguiu o título. No Mundial do México em 86, já longe de sua melhor forma, sucumbiu frente à França nas mesmas quartas de final de quatro anos antes. Pior, o pênalti perdido naquela partida o marcaria negativamente.
Nomes de sua geração como Zico, Falcão, Junior e Cerezo passaram a ser no Brasil sinônimo de futebol bonito, mas de eficiência questionada por alguns. Muitos apontam as táticas defensivas e o pragmatismo adotados no Mundial de 94 como uma resposta ao estilo ofensivo, mas derrotado em 82 e 86.
Como jogador, ele era considerado excelente passador, driblador, cabeceador e cobrador de faltas. Mas o uso elegante, eficiente e inesperado do calcanhar foi a marca registrada de seu futebol.
Personalidade
Outra característica foi a sinceridade incomum. Nunca escondeu que fumava e gostava de uma "cervejinha". Politizado, liderou um movimento inédito no futebol, a "Democracia Corinthiana", no qual os jogadores eram ouvidos sobre as questões do time.
Durante o período, o time paulista conquistou os títulos paulistas de 82 e 83 e se tornou um dos mais fortes do país. E, em 83, Sócrates foi eleito o Melhor Jogador da América do Sul pelo jornal uruguaio El País.
Foi um dos rostos mais conhecidos da derrotada campanha pelas eleições diretas para presidente da República, em 1984. Naquele ano, se transferiria para a Fiorentina da Itália, onde não conseguiu se adaptar, retornando ao Brasil em 85.
Na volta, o melhor de sua carreira já tinha ficado para trás e as contusões o levaram a abandonar os gramados em 1989.
Mas não definitivamente, já que em 2004 o nunca previsível Doutor anunciou que voltaria aos gramados para defender o modesto Garforth Town, time semi-profissional do norte da Inglaterra. Jogou pouco mais de meia hora em uma tarde gelada e, quando perguntado se repetiria a experiência, exclamou bem-humorado:
"Nem pensar, quase morri!"
Este ano, quando internado pela primeira vez por problemas em decorrência de uma cirrose, ele rejeitou a possibilidade de ser beneficiado por ser famoso.
"Estão falando em transplante. Não tenho nada contra transplante, transplante cardíaco, de pâncreas, pulmão, de rim. Só que tenho que estar na lista, se eu não estiver na lista eu não furo fila. Eu não estou nesta lista."
Sócrates morreu aos 57 anos de idade, deixando esposa e seis filhos.

Um comentário:

Rogério disse...

Sou Palmeirense, mas admiro um futebol de classe!

Tive o prazer de ver o Drº Sócrates jogar, um jogador com muita técnica.

Valeu pelo Futebol Drº!