sábado, 21 de novembro de 2009

ELEIÇÕES 2010: GRUPO DO PMDB LANÇA REQUIÃO À PRESIDÊNCIA


No encontro de diretórios, em Curitiba, partido propôs pré-candidatura do governador como via alternativa à campanha de Dilma 21/11/2009 13:36 Rhodrigo Deda e Gladson Angeli : Gazeta do Povo

Lideranças do PMDB de 15 diretórios estaduais lançaram neste sábado (21) o nome do governador Roberto Requião como pré-candidato à Presidência da República. A decisão foi tomada no encontro realizado no Hotel Pestana, em Curitiba, por um grupo de peemedebistas descontentes com os compromissos assumidos entre a cúpula nacional do partido e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a sucessão presidencial no próximo ano.
Estiveram presentes no encontro o senador Pedro Simon, o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, os senadores Pedro Simon (RS) e Neuto Couto (SC) e o ex-governador Orestes Quércia (SP). O senador Renan Calheiros, que havia confirmado presença, não compareceu.

O governador Requião afirmou que a decisão dá “oxigênio ao velho MDB de guerra”. “Não podemos ter um partido acessório, que não se manifesta”, declarou.

Só em junho do ano que vem o PMDB decidirá em convenção se lançará candidatura própria
No encontro, os peemedebistas publicaram uma moção de apoio à candidatura de Requião, chamando a direção nacional do partido a promover debates nos estados para a elaboração de um programa de governo.
O lançamento da pré-candidatura de Requião é uma reação à cúpula nacional do PMDB. Lula ofereceu à legenda a vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff. Mas parte do PMDB prefere uma aliança com o governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB à presidência. Quércia, um dos peemedebistas que vinha defendendo a aliança com os tucanos, declarou ontem que abre mão do apoio à Serra em favor da candidatura própria. “Se não tivermos o candidato próprio, que para mim tem de ser o Requião, então defendo uma coligação com o PSDB”, afirmou.
Coube ao senador Pedro Simon (RS) propor durante o encontro que Requião seja o candidato do PMDB à presidência. Depois de criticar os integrantes da cúpula nacional – por terem feito parte tanto do grupo de apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quanto do presidente Lula – Simon defendeu que a partir de agora Requião comece a viajar pelo país para lançar seu nome como pré-candidato.
O lançamento de candidatura própria pelo PMDB tem sido visto como um “jogo de cena” para que alguns dirigentes estaduais possam desestabilizar a aliança entre PT e o partido e possam aderir livremente à candidatura tucana. Simon, porém, nega que seja esse o objetivo. “Com o nome dele (Requião) acho que vai ser muito difícil perder a convenção.
A candidatura de Requião não é uma candidatura anti-Lula, é uma candidatura do PMDB que pode e vai para o segundo turno e talvez seja a salvação do Lula para não perder para o Serra”. Na avaliação do senador, Requião, ao contrário de Dilma, pode vencer José Serra num segundo turno eleitoral.

domingo, 15 de novembro de 2009

SIQUEIRA CAMPOS DÁ EXEMPLO DE INDÚSTRIALIZAÇÃO PARA O PARANÁ

Fábrica da Pro Tork em Siqueira Campos: maior da América Latina

Siqueira Campos - Encravada no centro do Norte Pioneiro do Paraná, Siqueira Campos tornou-
se uma ilha de prosperidade em meio a uma das regiões mais pobres do Paraná. A ferramenta usada para fazer da cidade de 20 mil habitantes um polo industrial em uma área com vocação agrícola foi um plano de desenvolvimento industrial colocado em prática há 20 anos.
Um dos membros daquele grupo que se reuniu em 1989 para discutir o desenvolvimento industrial da cidade, o atual prefeito Luiz Antônio Liechocki (PMDB) explica que na década de 1980 o município tinha apenas 11 mil habitantes porque estava perdendo a população rural. O êxodo transformou quase 2 mil propriedades rurais em 600, a maioria latifúndios. “De uma hora para outra nos tornamos uma cidade cercada por pastagens”, lembra.
O primeiro passo rumo à industrialização foi incentivar cerca de dez pequenas indústrias do município para que se transferissem para uma área adquirida pela prefeitura às margem da rodovia PR-090, conta o diretor do Departamento de Indústria e Comércio do município, Claudio Chomiski. A partir daí, vieram os incentivos, como isenção do pagamento de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto Sobre Serviços (ISS) e o IPTU, a doação de áreas bem localizadas, o financiamento de barracões industriais e o treinamento de mão de obra.
Em quatro anos o esforço começou a dar resultado. Com a chegada das indústrias de fora o que era deixado de arrecadar com a isenção de impostos na indústria começou a ser compensado pelo setor do comércio e serviços. “A população cresceu, a renda aumentou, as pessoas começaram a comprar mais e o município passou a ter uma arrecadação muito maior”, diz Chomiski.
De dez indústrias, hoje a cidade conta com 97 fábricas, a maioria dos setores de metal-mecânico e de confecções. São 6 mil empregos diretos e outros 3 mil indiretos. Com tantas indústrias o PIB de Siqueira Campos cresceu 12% em 2008, o dobro do desempenho do Paraná. A previsão é fechar 2009 com 15% de crescimento.
O desenvolvimento industrial de Siqueira Campos teve um divisor de águas com a chegada da Pro Tork. A indústria é a maior fabricante de peças e acessórios para motocicletas da América Latina, com quase 5 mil itens em seu catálogo. Antes instalada em Curitiba, quando fabricava, de forma artesanal, apenas escapamentos para motos, os diretores do grupo, que já eram de Siqueira Campos ficaram atraídos com as facilidades e se mudaram para Siqueira Campos em 1993. Hoje são duas plantas industriais que empregam 3,6 mil trabalhadores e de onde saem os produtos vendidos para todo o país, além de serem exportados para a América Latina, Europa e Ásia. FONTE: GAZETADO POVO 15/11/2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

PARA ONDE VAMOS?

A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio "talvez" porque alguns estão de tal modo inebriados com "o maior espetáculo da Terra", de riqueza fácil que beneficia poucos, que tenho dúvidas.
Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?

Só que cada pequena transgressão, cada desvio vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advém do nosso príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o País, devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco têm que ver com nossos ideais democráticos.
É possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos". Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal-ajambrada?
Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois, se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista", deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública.
Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares, se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental numa companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas?
Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem nenhum pudor, passear pelo Brasil à custa do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?
Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do "autoritarismo popular" vai minando o espírito da democracia constitucional. Esta supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer, obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o."
Em pauta temos a Transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no Orçamento e mínguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo Tribunal de Contas da União. Não importa, no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: "Minha Casa, Minha Vida"; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.
Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo "Brasil potência".
Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU - contra a letra expressa da Constituição - vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil.
Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que se tenha esquecido de acrescentar: "L"État c"est moi." Mas não se esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender o "nosso pré-sal". Está bem, tudo muito lógico.
Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro.
Os partidos estão desmoralizados. Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.
Ora, dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo).
Com isso os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina.
No Brasil os fundos de pensão não são apenas acionistas - com a liberdade de vender e comprar em bolsas -, mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições.
Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo, antes que seja tarde.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República