domingo, 27 de maio de 2012

Lula, Bastos e um coração bobo, por Mary Zaidan


O silêncio anunciado do principal protagonista, os deploráveis joguetes de governistas e da oposição. Tudo enfadonho. Até agora, o único acontecimento digno de nota na CPI mista que deveria investigar as ilicitudes públicas e privadas de Carlos Cachoeira foi Márcio Thomás Bastos, ex-ministro da Justiça de Lula, sentado, atento e aplicado, ao lado de seu cliente contraventor durante mais de duas horas de interrogatório inócuo.
Na semana, a cena só perde para a do próprio Lula, que voltou a vociferar contra as elites – a mesma que teve e tem benesses e benesses de seu governo e do de sua sucessora – e contra a imprensa, rebatendo na tecla de que o Mensalão não passou de uma invencionice para tentar derrubá-lo.
Disse isso de novo, de cara lavada, desta vez dentro da casa legislativa de São Paulo, onde recebia o título de cidadão honorário da cidade. Sempre vítima - do preconceito das elites contra um operário, e até de seus companheiros, que o traíram, como disse nas desculpas públicas que fez ao país no auge do Mensalão -, Lula já deixou claro que não perderá uma única oportunidade para negar o maior escândalo do país, prestes a ser julgado pelo STF.
Além da desfaçatez, os dois episódios trazem outros pontos biunívocos. Bastos argumenta que todo acusado tem direito à defesa. O óbvio do óbvio. Mas não explica por que decidiu defender, entre tantos encarcerados, logo esse réu, metido com entes públicos de primeira grandeza, a maior parte deles integrante do governo a que ele serviu.
Por que esse réu merece ter como defensor um ex-ministro da Justiça? De onde virão os honorários? Da contravenção?
As frases do compositor e cantor Alceu Valença no Facebook são precisas: “dizem que o advogado vai ganhar R$ 15 milhões para defender Cachoeira. Esta dinheirama, certamente, vem do arrombamento dos cofres públicos e trambiques (…). Honorários pagos com dinheiro desviado, ilustre causídico, não é prática ética e moral”.
E completou: “estudei Direito, poderia ser advogado, mas jamais aceitaria defender Cachoeira, nem por uma enxurrada de dinheiro”.
Grande Alceu.
Por gosto, Alceu, 40 anos de carreira na MPB, continua labutando duro e comandando a alegria nos palcos do país.
Por escolha, Bastos aceita clientes de conveniência do poder a que ele serviu e serve.
Por gosto, escolha, confiança na popularidade e na impunidade, Lula insiste em reescrever a história só para proteger a si e aos seus.
Grande Alceu. Ainda bem que temos o seu Coração bobo.

 Alceu Valença e Zé Ramalho

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

QUE FIQUE CLARO! AVANÇO DE LULA SOBRE O STF É AINDA MAIS GRAVE DO QUE ESCÂNDALO DO MENSALÃO. É A MAIS GRAVE AGRESSÃO AO ESTADO DE DIREITO DESDE A REDEMOCRATIZAÇÃO. O DICIONÁRIO REGISTRA O QUE LULA TENTOU PRATICAR: “CHANTAGEM”!!!

Nosferatu não quer largar o nosso pescoço e o do estado de direito! Chega, Nosferatu!  Vá militar no Sindicato dos Vampiros Aposentados!



Nosferatu não quer largar o nosso pescoço e o do estado de direito! Chega, Nosferatu! Vá militar no Sindicato dos Vampiros Aposentados!

Espalhem a verdade na rede. Um ex-presidente da República, chefe máximo do maior partido do país  — que está no poder —, atuou e atua como chantagista da nossa corte suprema. Lula se coloca no papel de quem pode chantagear ministros do STF.

A reportagem que VEJA traz na edição desta semana expõe aquela que é a mais grave agressão sofrida pelo estado de direito desde a redemocratização do país — muito mais grave do que o mensalão!!! Alguns setores da própria imprensa resistem em dar ao caso a sua devida dimensão, preferindo emprestar relevo a desmentidos tão inverossímeis quanto ridículos, porque se acostumaram a ter no país um indivíduo inimputável, que se considera acima das leis, das instituições, do decoro, dos costumes, do razoável e do bom senso. Quanto ao dito “desmentido” de Nelson Jobim, acho que o post publicado pelo jornalista Jorge Moreno (ver abaixo) fala por si mesmo.
Não há por que dourar a pílula. O que Lula tentou fazer com Gilmar Mendes tem nome nos dicionários: “chantagem”. O Houaiss assim define a palavra, na sua primeira acepção:
“pressão exercida sobre alguém para obter dinheiro ou favores mediante ameaças de revelação de fatos criminosos ou escandalosos (verídicos ou não)”.
Atenção, minhas caras, meus caros, para a precisão do conceito: “verídicos ou não”!!! No “Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa”, aquele que já registra o verbete “petralha”, lemos:
“Pressão que se exerce sobre alguém mediante ameaça de provocar escândalo público, para obter dinheiro ou outro proveito; extorsão de dinheiro ou favores sob ameaça de revelações escandalosas”.
Atenção para a precisão do conceito: “mediante ameaça de provocar escândalo público”. A questão, pois, está em “provocar o escândalo”, pouco importando se com fatos “verídicos ou não”.
Aplausos para o ministro Gilmar Mendes, que não se acovardou! É bom lembrar que, pouco depois dessa conversa, seu nome circulou nos blogs sujos, financiados com dinheiro público, associado à suposição de que teria viajado à Alemanha com o patrocínio de Carlinhos Cachoeira. Não aconteceu, claro! Mendes tomou as devidas precauções: comunicou o fato a dois senadores, ao procurador-geral da República e ao Advogado Geral da União. Poderia mesmo, dada a natureza da conversa e seu roteiro, ter, no limite, dado voz de prisão a Lula. Imaginem o bafafá!
Não é segredo para ninguém
As ações de Lula nos bastidores não são segredo pra ninguém. TODOS — REITERO: TODOS!!! — OS JORNALISTAS DE POLÍTICA COM UM GRAU MÍNIMO DE INFORMAÇÃO PARA SE MANTER NA PROFISSÃO SABEM DISSO! E sabem porque Lula, além de notavelmente truculento na ação política — característica que passa mais ou menos despercebido por causa de estilo aparentemente companheiro e boa-praça —, é também um falastrão. Conta vantagens pelos cotovelos. Dias Toffoli, por exemplo, é um que deveria lhe dar um pito. O ex-presidente e seus estafetas têm a pretensão não só de assegurar que ele participará do julgamento como a de que conhecem o conteúdo do seu voto.
Lula perdeu a mão e a noção de limite. Não aceita que seu partido seja julgado pelas leis do país, assim como jamais aceitou os limites institucionais nos quais tinha de se mover. Considera que a legalidade existe para tolher seus movimentos e para impedir que faça o que tem de ser feito “nestepaiz”.
Sua ação para encabrestar ministros do Supremo é, se quiserem saber, mais nefasta do que o avanço do Regime Militar contra o Supremo. Aquele cassou ministros — ação que me parece, em muitos aspectos, menos deletéria do que chantageá-los. O mensalão foi uma tentativa de comprar o Poder Legislativo, de transformá-lo em mero caudatário do Executivo. A ação de agora busca anular o Judiciário — na prática, o Poder dos Poderes.
Obrigação do Supremo
O Supremo está obrigado, entendo, a se reunir para fazer uma declaração, ainda que simbólica, à nação: trata-se de uma corte independente, de homens livres, que não se submete nem à voz rouca das ruas nem à pressão de alguém que se coloca como o dono da democracia — e, pois, como o líder de uma tirania.
Chegou a hora de rechaçar os avanços deste senhor contra as instituições e lhe colocar um limite. A Venezuela não é aqui, senhor Luiz Inácio. E nunca será! De resto, é inescapável constatar: ainda que haja ministros que acreditem, sinceramente e por razões que considera técnicas, que os mensaleiros devem ser inocentados, não haverá brasileiro nestepaiz que não suspeitará de razões subalternas. Pior para o ministro? Pode até ser, mas, acima de tudo, pior para o país.
Lula se tornou um vampiro de instituições. É um passado que não quer passar. É o Nosferatu do estado de direito!


Por Reinaldo Azevedo

domingo, 20 de maio de 2012

Voltando com um belo artigo de Mary Zaidan: 'Você é nosso e nós somos teu'


Português abaixo da crítica, conteúdo mais baixo ainda. Assim pode ser definida a mensagem do deputado Cândido Vacarezza (PT-SP) ao governador Sérgio Cabral, flagrado pelas câmaras do SBT durante reunião da CPI mista que deveria investigar as estripulias do contraventor Carlos Cachoeira. "A relação com o PMDB vai azedar. Mas não se preocupe. Você é nosso e nós somos teu.”
Embora não tenha revelado nada de novo, Vacarezza deu um azar danado.
Nos 83 toques em que confessa amor eterno ao governador do Rio, o ex-líder do governo na Câmara expôs com todas as letras o que muitos estão cansados de saber, mas jamais revelariam: a blindagem total aos que interessam – governo, PT e aliados amigos - em uma CPI patrocinada pela maioria, talvez a única na história.
Coisa que só a onipotência do ex-presidente Lula poderia conceber.
Precedida ou seguida de um “Por que? O que houve?” do preocupado interlocutor – algo a que poucos deram atenção -, o torpedo de Vacarezza ganha potencial explosivo. Pode significar muito mais do que a óbvia proteção aos cupinchas. Deixa claro que de sério a CPI tem pouco ou quase nada. Coisa para a plateia ver.
Mas o que será que tanto apoquenta Cabral? Se, como diz, não aparece em gravação alguma, não precisaria de proteção adicional. Muito menos de informações online, no auge do debate, sobre o quadro de convocações da CPI.
Os guardanapos dos seus lhe perturbam a cabeça? Teme novas fotos? Novas revelações?
Os motivos que levariam líderes de primeira grandeza do PT a se indispor abertamente com o PMDB, maior aliado e detentor da vice-presidência da República, são ainda mais inexplicáveis. Só mesmo encrencas das grandes valeriam tal preço.
Questões se amontoam às dezenas. Poucas serão respondidas a se medir pela primeira lista de convocações da CPI, todas para ouvir o que a Policia Federal já cansou de ouvir.
Uma comissão que se faz de inútil. Que, por escolha e gosto, desconsidera descalabros atrás de descalabros sob o argumento de que não se enquadram no escopo das investigações.
Imaginam, também por escolha e gosto, que investigações têm limites controláveis, esquecendo-se que a CPI mais devastadora já realizada no país começou com um alvo, o pagamento de propina nos Correios, e achou outro muito mais gigantesco, o mensalão.
Por essas e outras, é melhor proteger uns e outros, mandar torpedos e SMS – já que ligações telefônicas são perigosas demais – e tentar não dar sorte para o azar. Para quem deve e teme, não é um risco que dê para correr.

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan