segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Alvaro Dias critica pacote de concessões do governo e diz que PAC fracassou



                     
Em pronunciamento no Plenário nesta segunda-feira (20), o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que, com o lançamento do programa de concessões de estradas e ferrovias na semana passada, o governo admite que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) fracassou. Segundo o senador, o PAC é uma fraude, que apenas reúne siglas, programas já existentes e obras antigas.
Alvaro Dias lembrou que o PT sempre criticou as privatizações, “demonizando” a medida e acusando o PSDB de ser pouco patriota. Esse argumento, lembrou, foi usado nas eleições presidenciais de 2006 e 2010. O senador lembrou que o Programa de Investimentos em Logística prevê a aplicação de R$ 133 bilhões em reforma e construção de rodovias federais e ferrovias, ao longo de 30 anos. O parlamentar paranaense informou que o pacote prevê a duplicação de 7 mil quilômetros de rodovias e a construção de 10 mil quilômetros de ferrovias, por meio de concessões.
- A mídia repercute, mas isso é muito pouco ou quase nada diante do que o país precisa – afirmou.
Na visão do senador, o pacote é pouco ousado. Ele disse que, nos quatro anos em que foi governador do Paraná (1987-1991), construiu mais da metade do que o governo quer construir em 30 anos. Foram 4 mil quilômetros de pavimentação e 2,5 mil quilômetros de restauração, além de 11 mil m2 de pontes. O senador também disse que iniciou a construção da rodovia Oeste, que foi concluída no governo seguinte.
Alvaro Dias também criticou o fato de a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), recém-criada para cuidar do pacote de concessões, ser presidida por Bernado Figueiredo, que teve sua recondução à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) rejeitada pelo Senado Federal, no último mês de março. A indicação de Bernado Figueiredo, segundo o senador, representaria um desapreço ao entendimento do Senado. A criação de mais um órgão público, com cargos e funções, também mereceu crítica do sennador. Ele lembrou que as greves, que atingem 27 setores do governo, têm a ver com o aumento exagerado da máquina pública.
- Isso faz com que o governo limite sua capacidade de investimento no setor produtivo e provoca dificuldade em atender às demandas dos servidores – afirmou.
Para o senador, o país precisa enfrentar o “apagão gerencial” que o governo impôs ao país. Ele criticou o modelo de concessões dos aeroportos e pediu mais investimentos na infraestrutura do país e mais qualidade na gestão dos recursos públicos. Alvaro Dias ainda lamentou o fato de seu estado, o Paraná, não ter investimentos previstos nos programas de concessões do governo. O senador lembrou que o Paraná tem três ministros no governo Dilma Rousseff. Essa situação, segundo o parlamentar, leva o povo a pedir “menos ministros e mais investimentos”.
Agência Senado




domingo, 19 de agosto de 2012

O fantasma de Celso Daniel, por Mary Zaidan





Na última quinta-feira, enquanto no STF o ministro relator Joaquim Barbosa votava pela condenação dos primeiros quatro dos 37 réus da Ação Penal 470, o quinto dos sete acusados pelo assassinato do então prefeito de Santo André Celso Daniel ouvia a sentença que lhe imputou 22 anos de prisão. O caso, que também tem ligações com caixa 2 para campanha eleitoral, assombra tanto ou mais o PT do que o escândalo do mensalão.
Sequestrado e encontrado morto dois dias depois com oito tiros e sinais de tortura, em janeiro de 2002, o prefeito acabara de ser indicado para coordenar a campanha presidencial do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. E, de acordo com Ministério Público, ele teria sido eliminado ao discordar que parte do caixa 2 que sua cidade patrocinava não ia para os cofres do PT e sim para os bolsos de alguns petistas.
Desde que a denúncia veio à tona, o caixa 2 de Santo André foi negado com todas as unhas e todos os dentes. A começar por José Dirceu, presidente do PT à época. Negativas também vieram do ministro Gilberto Carvalho e de todas as estrelas de primeira grandeza.
Ninguém naquele início de 2002 considerava caixa 2 crime admissível ou menor. Muito menos imaginava que pudesse ser um dos principais argumentos para defender acusados de corrupção na Suprema Corte do país.
“É a mesma acusação que se tem hoje lá em Brasília”, argumentou o promotor Mario Augusto Friggi de Carvalho ao pedir a condenação de Elcyd Oliveira Brito, um dos participantes do assassinato do prefeito. Citou o depoimento de Rosângela Gabrilli, dona de uma empresa de ônibus, que dava todo mês R$ 41.800 para a caixinha do PT – R$ 550 por ônibus. E, detalhadamente, expôs a teia do caixa 2 de Santo André ao Tribunal do Júri de Itapecerica da Serra, município situado a 60 quilômetros de Osasco, onde o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), apontado como culpado pelo relator do mensalão, é candidato a prefeito.
Não que Cunha tenha a ver com a morte do ex-prefeito. Mas o crime de caixa 2, tão propalado pelos advogados de defesa no STF, sim.
No caso de Santo André, o MP está convencido – e já condenou cinco em cima da tese – de que Celso Daniel conhecia a propina que era cobrada durante o seu mandato para engordar o caixa paralelo e financiar campanhas do PT. O prefeito morto, portanto, não era santo. Roubava ou deixava roubar. Mas se sentia protegido ao fazê-lo em nome de levar um líder popular e o povo ao poder.
Perto dos métodos sofisticados do mensalão, o esquema de Santo André era quase ingênuo. Mas sua consequência foi trágica. Por isso mesmo, seus fantasmas aterrorizam mais.

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

domingo, 12 de agosto de 2012

Rastros de crime, por Mary Zaidan


Vinte e cinco defesas depois, todas apoiadas em pontos quase idênticos, os advogados dos réus do mensalão conseguiram algo inusitado: produzir mais dúvidas. Isso mesmo. No afã de tentar inocentar seus clientes, alguns deles se enrolaram e foram imprimindo novos rastros.
Caso típico foi o da defesa do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que se embananou na resposta ao ministro relator Joaquim Barbosa quanto ao dinheiro que trafegou entre o BB, a Visanet, o publicitário Marcos Valério e o esquema de compra de apoio político. Isso sem falar no pacote com R$ 326,6 mil em dinheiro vivo que Pizzolato recebeu de Valério e repassou a um emissário do PT sem saber, segundo o advogado, que o recheio do embrulho era bufunfa graúda.
Possivelmente para não tripudiar, Barbosa não incluiu nas perguntas ao defensor coisas singelas como o motivo que leva um diretor do BB, um servidor público, a se portar como pombo correio do PT. Ou como um pacote tão farto entra e sai da sede do BB sem que ninguém se dê conta do conteúdo, nem mesmo a segurança.
É carimbar a tarja de otário na testa de cada ministro da Suprema Corte do país - e de cada um de nós.
Nas falas dos defensores os mortos brilham. Ninguém do Banco Rural fez nada. Todos os empréstimos são da lavra de José Augusto Dumont, ex-vice-presidente do banco, morto em 2004. Mas se os empréstimos eram lícitos, como quer fazer crer a defesa, porque jogá-los sobre o morto?
Coube a outro morto, o deputado José Janene, ex-tesoureiro do PP, toda a culpa pelos acordos financeiros com o PT, pelos quais o deputado Pedro Henry é acusado. Observe-se que o advogado não negou a transação, só a autoria.
Já a alegação unânime dos defensores de que a fase de instrução criminal, com garantia ao contraditório, tem mais valor do que a do inquérito ou a de depoimentos em CPIs, ainda que fundamentada na Constituição, fica quase cômica. Esses mesmos advogados orientam seus clientes a se calarem em CPIs. Vide o conselho dado pelo ex-ministro Marcio Thomaz Bastos ao seu ex-cliente Carlinhos Cachoeira. Se não vale nada ou quase nada, porque a mudez em CPIs?
Na defesa reina a tese de Thomaz Bastos de que o mensalão não existiu e que tudo não passou de caixa 2. Como se crime eleitoral, e ainda por cima com dinheiro público, não fosse crime.
De quebra, na semana que passou o procurador-geral da República Roberto Gurgel foi apontado como irresponsável; incompetente para exercer a tarefa para qual foi indicado por duas vezes, primeiro por Lula e depois por Dilma Rousseff.
Por mais que o PT e os seus esperneiem, Gurgel já deu provas do acerto das escolhas.

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan