O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, foi entrevistado ao vivo nesta terça-feira (19) no Jornal Nacional William Bonner: Boa noite, candidato
pelos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes.
José Serra: Boa noite, William. Boa noite, Fátima. Boa noite a quem está nos escutando.
William Bonner: Esta entrevista terá dez minutos com uma tolerância de um minuto e mais 30 segundos como mensagem do candidato aos seus eleitores. Essa tolerância é para evitar interrupções e para a conclusão do raciocínio do candidato, e o tempo começa a ser contado a partir de agora. Candidato, o senhor teve no primeiro turno um desempenho inferior ao que o seu colega Geraldo Alckmin conseguiu na eleição presidencial de 2006. Ele teve nove pontos percentuais a mais que o senhor obteve desta vez. A que o senhor atribui essa resposta dos eleitores a suas propostas?
José Serra: Olha, primeiro, os outros candidatos eram diferentes, inclusive não tinha uma terceira candidata, um terceiro candidato, tão forte quanto a Marina. E no primeiro turno, na verdade, os eleitores fazem uma aproximação com o voto, né, não é um julgamento definitivo. De todo modo, eu cheguei a ter 33 milhões de votos, a Marina 20, de maneira que isso representou a maioria da população brasileira, mostrando que na verdade o Brasil quer um segundo turno, porque segundo turno tem muito mais possibilidade entre os dois mais votados de ter conhecimento, de iluminar a cabeça e a mente para o dia da eleição.
Fátima Bernardes: Agora, o segundo turno, ele está radicalizado, com uma mistura entre religião e política, que normalmente não costuma dar certo em lugar nenhum. A sua campanha tem explorado posições do PT e da sua candidata em relação, por exemplo, ao aborto. Essa mistura, política e religião, não deveria ser evitada?
José Serra: Olha, não fomos nós que levantamos, nem nós exploramos. Acontece o seguinte: a Dilma manifestou-se a favor do aborto. Deu uma entrevista está, enfim, tem em vídeo, o PT no final do ano passado fez aquele programa nacional de direitos humanos que tornava transgressor, criminoso aquele que fosse contra o aborto. Então eles puseram a questão no ar. Eu sempre manifestei, eu sempre manifestei o seguinte: eu sou contra a liberação do aborto e nunca explorei isso do ponto de vista de que ela estaria errada por ser a favor do aborto. O que acontece é que ela afirmou uma coisa e depois afirmou o oposto. Nem reconhece que disse o oposto e numa campanha, esses temas, Fátima, acabam sendo postos pela própria população. Nunca me passou pela cabeça transformar isso num centro de campanha.
Fátima Bernardes: Mas candidato, sua campanha tem falado, mostrado insistentemente imagens de missas, de cultos religiosos, questões como essas do aborto, até mesmo a união civil entre homossexuais. Elas não deveriam receber um tratamento de políticas públicas e não uma abordagem do ponto de vista da religião? Isso não contribui para um retrocesso no debate político?
José Serra: Olha, eu insisto, quem introduziu esse ingrediente na campanha foi o PT e foi a Dilma. Como eu tenho uma posição contrária ao aborto eu sempre fui perguntado, e sempre disse isso.
Fátima Bernardes: Mas é um retrocesso quanto a isso?
José Serra: Eu sempre visitei, em todas as campanhas que eu fiz, eu sempre visitei igrejas, eu sou católico, mas sempre visitei inclusive igrejas cristãs, evangélicas. Sempre falo no meu linguajar cotidiano, que está incorporado, eu sempre digo que se Deus quiser eu sou uma pessoa religiosa. Não há nada forçado neste sentido. E, aliás, a candidata não fez outra coisa se não passar a freqüentar igrejas, coisas que habitualmente ela não fazia. Então isso dá um tipo de aquecimento que se transforma no que você falou. Agora o que eu quero dizer é que a base disso está no fato de que uma hora ela diz uma coisa e outra hora ela diz o oposto. Aliás, não é o único caso que isso acontece.
Wiiliam Bonner: Candidato, na sua propaganda eleitoral o senhor tem mostrado obras grandes que o senhor realizou como governador em São Paulo: Rodoanel, a ampliação da Marginal do Tietê. Essas obras foram tocadas em parte, ou totalmente, pela Dersa, que é a empresa estadual que cuida disso. Quando o senhor era governador, o diretor da Dersa era Paulo de Souza, também conhecido como Paulo Preto. Por alguns. Paulo Preto foi acusado de ter arrecadado ilegalmente dinheiro para a campanha do PSDB e de ter ficado com esse dinheiro para ele. O PSDB e o senhor já negaram essa afirmação, disseram que não houve essa arrecadação. Mas o fato é que antes de os senhores negarem isso, Paulo Preto, ao jornal “Folha de S.Paulo”, disse o seguinte: "Não se abandona um líder ferido na estrada”. O que ele quis dizer com isso?
José Serra: Olha, William, antes dessa entrevista nós já tínhamos desmentido. Não houve desvio desse dinheiro na minha campanha, que seria a vítima no caso. Ou seja, não houve ninguém que tivesse doado o dinheiro não tivesse chegado e a pessoa tivesse feito chegar até a gente de que a contribuição não tinha chegado porque tinha dado e não chegou. Isso não aconteceu.
William Bonner: Mas essa frase: "não se abandona um líder ferido na estrada". Parece ameaça?
José Serra: Não, não. Porque sempre tem dentro de um partido gente que gosta de um, gente que não gosta de outro, mas o fato é que não houve o essencial que é o desvio de dinheiro da minha campanha, porque eu saberia. Em todo o caso, nós seríamos a vítima. Está certo? E aí não se trata, inclusive, nem de dinheiro do governo. É um dinheiro que foi contribuição para uma campanha. Eu desmenti isso há muito tempo . E o assunto volta posto, inclusive pelo PT, porque o que eles gostam de fazer? De vir com ataques às vezes meio incompreensíveis para nivelar todo mundo, como se os escândalos da Casa Civil, como se os escândalos desse senhor Cardeal agora na Eletrobrás, como se tudo isso pudesse ser também reproduzido, o que não aconteceu do outro lado. Eu não tenho nenhum chefe da Casa Civil que ficou do meu lado que aprontou tudo que a Erenice aprontou. Braço direito da Dilma.
William Bonner: Mas eu tenho de observar o seguinte. Primeiro, Paulo de Souza tinha um cargo estratégico no seu governo, era um cargo importante, de grandes obras, e teve uma filha dele, inclusive, contratada pelo senhor tanto na Prefeitura de São Paulo quanto no governo do estado em cargo de confiança. Quer dizer: essa relação sua com parentes, também de alguma maneira não configura aí um nepotismo dentro do governo?
José Serra: Veja, essa menina foi contratada, eu nem conhecia, não foi diretamente por mim, para trabalhar no cerimonial, que é, que faz recepções, que cuida de solenidades e tudo mais, entre muitas outras. Tinha um currículo, sabia dois idiomas, ou sabe dois idiomas, sempre trabalhou corretamente. Inclusive, eu só vi que era filha de um diretor de uma empresa muito tempo depois. Ela não está em nenhum cargo, nunca teve nenhuma acusação, nem nenhum cargo que tome decisões, faça lobby, pegue dinheiro.
Globo
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