quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O dia em que Serra venceu a eleição


Hoje, 12 de outubro, dia do descobrimento da América, foi o dia em que José Serra venceu a eleição. E foi nesta noite a sua vitória. Uma eleição que não era nem para acontecer: era, digamos, para ser uma mera formalidade burocrática da passagem do cetro de Lula para a criação, Dilma Rousseff. Mas ela começou e começou a ficar boa, seja qual for o seu resultado em 31 de outubro.

Como toda eleição, há dois lados, governo e oposição, não é verdade? Os ânimos se exaltam, isto é normal. Assuntos polêmicos são trazidos à tona, como o aborto e a religião. Outros são desenterrados de um passado descontextualizado com o presente, como o tema das privatizações.

Eleição é isso: sou eu contra você, somos nós contra eles. Antagonismo. Felizmente, em 2010, poderemos dizer às gerações futuras, que tivemos eleições. De fato, elas começaram de forma um tanto tardia, no segundo turno, mais precisamente num debate pouco visto, mas muito comentado, que foi o da Band, no último dia 10.

Ah, os burburinhos. São ótimos os burburinhos eleitorais. Nos dias de hoje, eles, além de serem espraiados de boca em boca, como antigamente, se espalham, igualmente, através da internet, a partir do twitter, do facebook e de outras redes sociais.

Graças a deus temos eleição. Escrevo deus desta forma para não ficar mal com os fiéis, mas escrevo da forma mais pagã possível para ficar em paz comigo mesmo. Ora, não é na eleição que o candidato deve dizer tudo a partir de meias palavras? Pois então, digo o que digo com as minhas próprias.

Na eleição, nunca vamos acreditar no outro lado, porque estamos embriagados com as nossas próprias convicções, com as nossas verdades cegas, pois toda a verdade verdadeiramente verdadeira é um atentado à democracia, o absoluto reino das dúvidas. Vivemos sempre numa democracia como falsos democratas, pois queremos vencer, vencer, vencer. Lula, mais do que nós: ele quer imperar.

Lula tinha claro que esta eleição seria a consagração de um mito, do seu próprio mito. Por isso, sabendo que as coisas terminariam lá no primeiro turno, não pensou num plano B. O PT está atordoado, porque não imaginou, como todos os soberbos, que a sua “obra” poderia ser desafiada pelo PSDB.

Lula não acreditava na força da oposição e o fato mais evidente é que Dilma Rousseff é a sua candidata. Ter escolhido Dilma foi como escolher o mais improvável jogador do time para bater um pênalti numa final de Copa do Mundo aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo. Dilma era a própria impossibilidade. Ela é a prova inconteste de que qualquer um pode vencer. Insondáveis os desígnios de Lula, seu criador, para tê-la escalado. Só a história nos dirá efetivamente porque um auto-candidato a deus escolheu, dentre todos os seus bispos, logo a coroinha mais coroinha da sua igreja.

Pois é, o problema de Lula nesta eleição é que ela começou. Este foi o azar de Lula. Meio estranhamente, no segundo turno, depois do debate da Band. Mas, enfim, a eleição começou.

A partir daí, todos os programas eleitorais do governo e da oposição foram mudando. O programa de Dilma passou a ser mais agressivo, passou a comparar “modelos”, passou a satanizar Serra e a oposição. O programa de Serra, ao contrário, vem se abrandando, apresentando mais propostas, criticando cada vez menos o governo.

Hoje, dia do descobrimento da América, descobri que José Serra venceu Lula e Dilma. Venceu, porque o programa do PT foi o típico programa de candidatura oposicionista desesperada a tirar pontos da situação. Atacou Serra como nunca. O programa de Serra, ao contrário, foi sobejamente propositivo. Apenas, no final, uma pitadinha de crítica à evidente inexperiência de Dilma, porque ninguém é de ferro!

Hoje o PT virou oposição e o PSDB virou governo. O dia do descobrimento da América foi o dia em que Serra venceu a eleição.

Daniel de MendonçaInstituto de Sociologia e Política
Universidade Federal de Pelotas
Twitter do autor: www.twitter.com/ddmendonca/

 

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