segunda-feira, 28 de setembro de 2009

OS CHILIQUES QUE OS POLÍTICOS DÃO

Nem Dercy Gonçalves teria a habilidade para a baixaria protagonizada na semana passada pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e o governador de Mato Grosso do Sul, André Pu­­cinelli. Perto deles, a boca suja da atriz era fichinha, coisa de pré-escola. Com o detalhe de que ela nunca foi eleita para nada, nem exerceu cargo público.
Por trás da troca de indelicadezas, a discussão entre Minc e Pucinelli expôs uma ferida nacional – a descompostura de uma enorme fatia da classe política. Perdão ao leitor pela reprodução de tantos palavrões, mas ela é necessária para ajudar a compreender a gravidade da questão.
Ruralista, o governador qualificou o ministro como um “veado fu­­mador de maconha”. Mais além, disse que se Minc participasse da Meia-Maratona Inter­­nacional do Pantanal, dia 11 de outubro, “o alcançaria e estupraria em praça pública”.
A resposta de Minc manteve o nível. “Ele (Pucinelli) deveria examinar e tratar com mais carinho o homossexualismo que existe dentro dele próprio e talvez aceitar isso com mais razoabilidade.” Também citou Freud: “Muitas pessoas que têm o homossexualismo enrustido tentam matar o homossexual que há dentro delas próprias”.
Em resumo, os dois cozinharam três chagas da humanidade (drogas, violência sexual e homofobia), acrescentaram uma boa pitada de falta de bom-senso e serviram como uma iguaria ao povo brasileiro. Sabem o pior disso tudo? Eles não são os únicos.
Há uma legião de políticos que sempre faz questão de fazer valer a máxima de que dar poder a uma pessoa é a melhor maneira de conhecê-la de verdade.
No mês passado, o ex-presidente Fernando Collor voltou à velha forma ao descontrolar-se totalmente em uma discussão com Pedro Simon no plenário do Senado. Dias depois, no mesmo local, Renan Calheiros chamou Tasso Jereissati de “merda”.
Bola da vez na disputa presidencial, Ciro Gomes também não economiza no destempero. Entre as últimas pérolas, foi “enfático” ao dizer que o Ministério Público não estava apto a investigar o escândalo das passagens no Congresso Nacional. “Ministério Público é o caralho! Não tenho medo de ninguém, dos deputados, da imprensa. Pode escrever o caralho aí”, disse a repórteres em Brasília.
Descendo mais no mapa, o governador Roberto Requião protagonizou episódios insólitos ao longo dos últimos anos de governo, como quando mandou agricultores enfiarem uma faixa de protesto “no rabo”. A agressão é apenas um entre os hits de Requião no youtube. E eles não são poucos.
Cenas assim podem até causar risos, mas na verdade são como um filme de horror.
É obviamente um martírio ter de tratar com inimigos publicamente, responder a perguntas indiscretas de jornalistas mal preparados. Fazer o quê? Homens públicos estão aí para isso, candidataram-se para viver no fio da navalha e só avançaram na carreira porque convenceram a população de que sabem suportar pressão.
Respeito ao próximo é prerrogativa de qualquer pessoa que vive em sociedade. No caso dos políticos, deveria ser lei sob pena de prisão. Eles, mais do que qualquer cidadão comum, não têm o direito de dar chiliques.
Em um país que passa por uma rara oportunidade de dar certo, prepotência já não tem a menor graça. Por isso é tão importante avaliar com cuidado o comportamento dos políticos em campanha e depois de serem eleitos. Assim como eles mudam de humor, você também pode mudar de voto. Por: André Gonçalves Conexão Brasilia A Gazeta do Povo

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