Eleitas pelo presidente Lula, em 2003, como símbolos do programa de combate à falta de alimentação, a mineira Itinga, a piauiense Guaribas e a pernambucana Brasília Teimosa continuam a conviver com a miséria sete anos depois
Sete anos e meio depois de ter sido criado como principal arma para combater a miséria no país, o Fome Zero provocou mudanças significativas na vida dos moradores das três localidades que viraram uma espécie de símbolo do programa: Itinga, no Vale do Jequitinhonha; Guaribas, no Piauí, e Brasília Teimosa, antigo bairro do Recife. Mas nem por isso o fantasma da miséria deixa de assombrar boa parte da população. No início de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recém-empossado no Palácio do Planalto, e grande parte dos seus ministros escolheram as duas cidades e o bairro do Recife para lançar o Fome Zero. A escolha desses locais foi motivada pelos níveis de pobreza e carência da população. Na época, equipes de reportagem do Correio/Estado de Minas acompanharam a visita de Lula, mostraram a realidade dos moradores e as suas necessidades, além das promessas que foram feitas a eles.
Na semana passada, de volta a essas localidades, os repórteres foram verificar o que mudou na vida dos seus habitantes. Guaribas vive hoje em torno do Bolsa Família: 96% dos moradores recebem o benefício, que movimentou a economia da região ao mesmo tempo em que propiciou a melhora nas condições de vida de muitas famílias. Mas, como em 2003, não é difícil encontrar situações de miséria. Em Itinga, mais de 2 mil famílias se sustentam com o Bolsa Família, mas as estatísticas mostram que o quadro social ainda é desolador. Pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro e divulgada quinta-feira coloca a cidade como a pior em qualidade de vida de Minas Gerais. Quanto a Brasília Teimosa, a favela sobre palafitas não existe mais. As mais de 500 famílias que viviam entre ratos e lixo foram transferidas do local, que foi urbanizado e ganhou até espaço de lazer.
Mudanças na paisagem
Em janeiro de 2003, poucos dias depois de tomar posse para seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Itinga, no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do país. No coreto da praça, ao lado de uma comitiva de ministros, prometeu melhorar as condições de vida do município, escolhido como um dos símbolos do Programa Fome Zero, que tem como principal ação o Bolsa Família. Levou a comitiva a Guaribas, no sudoeste do Piauí, e às palafitas de Brasília Teimosa, no Recife (PE), e repetiu a promessa de transformar a vida das pessoas ao lançar o programa.
Em Itinga, o presidente anunciou a imediata construção de uma ponte sobre o Rio Jequitinhonha, que corta a cidade, e a reativação do único hospital do município — que, mesmo equipado, estava fechado —, cuja pedra fundamental havia sido lançada pelo próprio Lula 10 anos antes, quando esteve na cidade durante a viagem denominada Caravana da Cidadania.
Passados sete anos e meio, intervalo em que Lula foi reeleito para o seu segundo mandato e agora tenta eleger Dilma Rousseff para manter o PT no comando do país, a paisagem de Itinga mudou com a construção da ponte sobre o Rio Jequitinhonha, inaugurada pelo presidente em março de 2004, e a fome que atingia boa parte da população foi aplacada pelo Bolsa Família, que atende atualmente 2,1 mil famílias no município. Mas a situação ainda é de muita pobreza na cidade de 10,5 mil moradores. Não foi à toa que Itinga ficou em último lugar no Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS), datado de 2006 e medido pela Fundação João Pinheiro.
O impacto do Bolsa Família na economia local é grande. O benefício mensal surge praticamente como a única fonte de renda para as 2.100 famílias cadastradas para receber o benefício em Itinga. O programa, que dá dinheiro a quem antes não tinha nada, não inclui na cidade nenhuma ação para evitar que os beneficiários se tornem dependentes do auxílio. Já em Guaribas, o Bolsa Família funciona como complemento de renda e é recebido por 96% dos 4,6 mil habitantes. Para o prefeito Ericlélio Andrade (PRB), o dinheiro do governo tornou os habitantes de Guaribas dependentes. “O povo ficou conformado com o Bolsa Família e não quer enfrentar adversidades”, disse.
Já em Guaribas, o principal programa social do governo criou duas classes de habitantes na cidade do sudeste do Piauí: o conformado e o empreendedor. A primeira classe acha que a situação é confortável com a verba federal que sempre é depositada no banco. A segunda aposta no Bolsa Família como um complemento para melhorar de vida e quer investir na cidade. O contato com as pessoas que recebem o benefício nas duas cidades mostra que, excluindo o dinheiro para compra de alimento (nem sempre suficiente) e o material escolar para manter os filhos na escolha (uma das condicionantes do programa), a vida dos moradores mais carentes pouco mudou e permanecem dificuldades como falta de emprego e de atendimento a saúde. Fonte : Correio Braziliense
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